16 de junho de 2014

Testamento de D. Afonso II | 27 de junho de 1214| Sobre os primeiros documentos em língua portuguesa II - Datação

«Dos princípios do séc. XIII  temos a Noticia de torto e o Testamento de D. Afonso II, de 27 de Junho de 1214, seguindo-se-lhe um longo hiato até aparecer novo documento em português em 1255» 
Pe Avelino de Jesus da Costa (1979).


O Testamento de D. Afonso II de Portugal e a sua datação são do conhecimento público através do trabalho realizado pelo Padre Avelino de Jesus da Costa em 1979, intitulado Os mais antigos documentos escritos em português. Revisão de um problema histórico-linguístico, trabalho ampliado da comunicação apresentada no «IVe Congrès International de Diplomatique», realizado em Budapeste, em 1973, de acordo com Maria Helena da Cruz Coelho.

Reportando-nos aos documentos da Chancelaria de D. Afonso II de Portugal, Maria Helena da Cruz Coelho, em 1991, sublinha que «Avelino de Jesus da Costa, no seu fundamentado estudo sobre "Os mais antigos documentos escritos em português. Revisão de um problema histórico-linguístico”, trabalho que foi preparado no Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra, disserta largamente sobre os mais antigos documentos não datados escritos na nossa língua, mostrando como se trata de cópias, a que atribui as respectivas datas críticas, para vir a concluir que o mais vetusto original datado, redigido em português, é precisamente o testamento do nosso monarca D. Afonso II, de 27 de Junho de 1214. E para atingir esta definitiva asserção conjugam-se conhecimentos de linguística, história e diplomática, que o autor criteriosamente maneja para dilucidar a verdade dos factos.»

Afirma-nos o Pe. Avelino de Jesus da Costa, no seu texto “Os mais antigos documentos escritos em português. Revisão de um problema histórico-linguístico”, reportando-se ao testamento, que «posto de lado o Auto de Partilhas de 1192 e o Testamento de 1193, o primeiro documento escrito em português e provido de data é o testamento feito por D. Afonso II ‘en Coinbria IIII or dias por andar de Junio Era M.a  CC. A  L a II.a’ , isto é, 27 de Junho de 1214.»

No âmbito das fontes linguísticas da língua portuguesa, foi precursora na pesquisa efectuada, em torno do Testamento de D. Afonso II,  Carolina Michaëlis de Vasconcelos, filóloga, etnógrafa, historiadora,  crítica literária, escritora e lexicógrafa, que publicou em 1897, em alemão, a História da Literatura Portuguesa.  Seguiram-se-lhe, na pesquisa, os linguistas portugueses Pedro de Azevedo  e Leite de Vasconcelos. Lê-se às páginas 399 e 400  do manual de Textos Portugueses Medievais, abaixo mencionado, o seguinte, citamos: «[O Testamento de D. Afonso II] foi publicado, segundo um manuscrito do Arquivo Nacional da Torre do  Tombo (Lisboa), por Pedro de Azevedo, na Revista Lusitana, VIII, 82-84 (1903-1905), precedido de elucidativa introdução(pp.80-81), e por Leite de Vasconcelos, nas Lições de Philosofia portuguesa, Lisboa, 1911, pp. 70-75, com proémio e extenso e riquíssimo comentário (pp.69-70, e 75-101), aqui parcialmente aproveitado. O texto latino (datado de 1221) foi dado a lume por Fr. Francisco Brandão, na Monarchia Lusitana, IV, prt., fol. 269 v. a 270 v. (Lisboa, 1632) e por D. António Caetano de Sousa, na História da Genealogia da Casa Real Portuguesa, etc., Provas, I, 34-36 (Lisboa, 1739).

A datação do Testamento de D. Afonso II foi noticiada, enquanto «o primeiro documento escrito em português e provido de data», pelo Padre Avelino da Costa, em 1979, num texto intitulado ”Os mais antigos documentos escritos em português. Revisão de um problema histórico-linguístico”, trabalho ampliado de uma comunicação apresentada ao “IV Congrès Internationale de Diplomatique”, realizado, em Budapeste, em 1973. Afirmava, então o Padre Avelino da Costa que «posto de lado o Auto de Partilhas de 1192 e o Testamento de 1193, o primeiro documento escrito em português e provido de data é o testamento feito por D. Afonso II ‘en Coinbria IIII or dias por andar de Junio Era M.a  CC. A  L a II.a’ , isto é, 27 de Junho de 1214.»  A partir de 1979, a datação do Testamento passa a ser mais amplamente conhecida a nível internacional, através da sua divulgação no congresso em epígrafe. Tanto Lindley Cintra, desde a década de sessenta, como Ivo Castro, no seu Curso de História da Língua Portuguesa (1991) clarificam que esses documentos não teriam sido os únicos dessa primeira fase. 

Esta informação faz parte da História da Literatura Portuguesa, dos anais da linguística portuguesa, e, por inerência, dos estudos linguísticos e literários nas universidades, bem como da formação dos professores de português que a ensinam e disseminam nas escolas desde sempre, sendo a título de exemplo o manual de Textos Portugueses Medievais, de Correia de Oliveira e Saavedra Machado, 3º ciclo dos liceus, 3ª edição (1968) Coimbra Editora Limitada, que no cap.  II. da parte dedicada  Prosa, apresenta o Testamento de D. Afonso II, comentado (pp.395-404). A datação rigorosa do Testamento de D. Afonso II de Portugal é reiterada também, à posteriori, por Ivo de Castro e Ana Maria Martins, entre outros linguistas e historiadores da língua, sendo do conhecimento de todos os que que estudam História da Língua nas universidades, constando dos manuais de História da Língua, História de Portugal, História Diplomática, Diplomática, Paleografia, entre outras disciplinas.  

Em 2001, a Biblioteca Nacional de Portugal organizou sob a direcção de Maria Helena Mira Mateus, a Exposição Comemorativa do Ano Europeu das Línguas, em que o Testamento de D. Afonso II de Portugal foi um dos documentos em foco.

Em suma, a descoberta do Testamento de D. Afonso II  de Portugal, datado de 27 de junho de 1214, deu-se em 1973, é resulta de um trabalho efetuado por linguistas portugueses, acima referenciados, que data ao século XIX. 
  

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