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Transcrição do Testamento de D. Afonso II
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Excerto do texto "COMO SE ESTRUTUROU A LÍNGUA PORTUGUESA?
Perspectiva histórica da fonologia e da morfologia da língua portuguesa"
Rosa Virgínia Mattos e Silva
UFBA/CNPq
Museu da Língua Portuguesa-Estação da luz
Vou centrar-me na primeira fase dessa primitiva documentação, portanto anterior
a 1255, que nestes anos noventa começa a ser revista sobretudo pela referida
lingüista e filóloga, seguindo inferências e sugestões tanto de Lindley Cintra
(1963:45) como de Ivo Castro (1991: 183).
Em 1961, em colóquio sobre os mais antigos textos românicos não-literários,
realizado em Estrasburgo, Lindley Cintra (1963) torna públicas pesquisas que
vinha realizando sobre os antigos textos em português, juntamente com o
paleógrafo Ruy de Azevedo, que demonstraram que, entre os textos, que a
tradição filológica, desde os começos do século XX, indicava como os mais
antigos – o Testamento de Elvira Sanches e o Auto das Partilhas – eram dos fins
do século XIII, mantendo-se como os primeiros documentos, o Testamento de
Afonso II, escrito na Chancelaria desse rei e a Notícia de torto, provável
rascunho de um documento privado. O Testamento datado de 1214 e a Notícia,
situável, pelos fatos narrados, relacionados a famílias historicamente
identificadas, entre 1210 e 1216.
Ao trabalho do filólogo e paleógrafo antes nomeados, juntou-se depois o
trabalho do historiador medievalista Pe. José Avelino da Costa (1979). Confirma
os achados dos outros e ainda inclui um elemento novo que se refere a mais uma
das treze cópias do Testamento de Afonso II, encontrada no arquivo da diocese
de Toledo, na década de sessenta, já que, desde o século XIX até então só se
conhecia uma, a que está no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa. Desde
então até hoje os incontestáveis conhecidos da primeira fase da primitiva
documentação em português são, portanto, as duas cópias do Testamento de Afonso
II e a Notícia de Torto.
Tanto Lindley Cintra, desde a década de sessenta, como Ivo Castro, no seu
Curso de história da língua portuguesa (1991) deixam claro que esses documentos
não teriam sido os únicos dessa primeira fase.
Nenhum outro documento oficial foi encontrado até hoje, entre as duas
cópias do Testamento de 1214 e os documentos em português da Chancelaria de
Afonso III, a partir de 1255, sendo assim, realmente, o referido Testamento um
documento temporão, explicável por razões da história de vida de Afonso II.
Pesquisas muito recentes conduzidas sobretudo por Ana Maria Martins nos
fundos conventuais arquivados na Torre do Tombo revelaram alguns documentos
assemelhados à Notícia de torto, os quais já compõem um corpus de menos de
vinte documentos, que a Autora situa entre 1175 e 1255, momento em que começa a
Segunda fase referida. Esses documentos na sua classificação são de scripta
conservadora, como a Notícia de torto diferentemente do Testamento de Afonso
II, que classifica como de scripta inovadora. Compõem eles um conjunto de
textos de natureza jurídica categorizados como fintos ou róis, notícias e
testamentos: Martins (1997:7).
Para Ana Maria Martins, a fronteira entre textos latino-romances e textos
romances de scripta conservadora produzidos em Portugal não deve ser traçada
numa base meramente quantitativa. “O abandono efetivo ou tendencial das marcas
de uma morfologia latina” (Martins 1999: 8) parece-lhe ser característica
essencial desses documentos da primitiva produção em Português, por oposição
aos documentos latino-romances.
Vale dizer que os documentos latino-romances em Portugal a que se
contrapõem esses primeiros documentos de scripta conservadora vêm sendo também
pesquisados por outro jovem filólogo e lingüista português, Antônio Emiliano
que, na sua tese de doutoramento, se dedicou a língua notarial
latino-bracarense: Emiliano (1997). Sem conhecer esse lado latino-romance da
questão, não teria podido Ana Maria Martins contrapor os documentos que
encontrou em sua pesquisa e defini-los com clareza que não são mais escritos em
latim, mas representam uma scripta conservadora, latinizante da língua
portuguesa.
Com esse filão recentemente reaberto, o estado da questão permite afirmar
que a par da Notícia de torto outros documentos privados a ela assemelhados,
compõem a primeira fase da primitiva produção documental em português e que a
data para esse tipo de texto recua para as últimas décadas do século XII.” (...)
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